Metodologia colaborativa
Nessa metodologia colaborativa, deste processo, esse aspecto se ampliou, pois realizamos, como disparador de pesquisa, três encontros criativos/rodas de conversa com os temas: Combate e Prevenção à Violência LGBTTQIA+, Desconstrução da Masculinidade e Drag-Queen – Arte, Política e Liberdade: Close Certo!
A ideia dos Encontros Criativos foi promover a troca e criar junto, buscando expandir as possibilidades deste processo proposto pelo grupo. Através das temáticas LGBTTQI+ e o universo Drag Queen, temas centrais, a Cia Carona quer construir espaços para ouvir as vozes de pessoas que facilmente são caladas e invisibilidades em nossa sociedade.
Nessas rodas, propomos algumas ações: colagens e escritas livres em cartazes, práticas de interação, gravação de depoimentos, seguidos sempre de um diálogo sobre os temas propostos. Esses momentos foram muito ricos, produtivos e nos trouxeram materiais temáticos para que compusemos o conteúdo textual que Eva Pepper poderia explorar. Lenilso Silva e Marilei Post, convidados desses encontros, comentam:
O processo da roda de conversa sobre a população LGBT foi um momento sublime para trazer à luz a situação de vulnerabilidade social e o processo histórico desta comunidade para que possa viver plenamente. A maior relevância foi o extraordinário debate a respeito da realidade social ingrata que os LGBTs vivem apenas por existirem. Também foi uma oportunidade de dialogar sobre saídas para enfretar a LGBTfobia. Resultado: enquanto houver LGBTfobia, haverá nossa luta (Lenilso Silva).
Embora eu não seja conhecedora dos elementos que compõem uma peça de teatro, sou apaixonada pelo teatro como forma de expressão. Participar das rodas de conversa colaborativas desde a concepção da peça “A Segunda Eva”, juntamente a roteiristas, diretores, atores (etc.) foi uma experiência incrível em que foi possível perceber a ideia evoluindo coletivamente (Marilei Post).
1º Encontro Criativo – Aconteceu na Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais, no espaço Elfy Eggert – em 10/03 – 19h
Tema: Combate e Prevenção à Violência LGBTTQIA+
Convidado: Lenilso Silva – que será a representação de liderança em movimentos de luta e combate a lgbtFobia.
2º Encontro Criativo – Aconteceu no Greenplace Park – Blumenau – em 10/04 – 19h
Tema: Desconstrução da Masculinidade –
Convidadas: Marilei Post e Aline Cruz, mulheres, líderes de organizações e movimento social voltados à luta por garantia de direitos das mulheres em Blumenau e região.
3º Encontro Criativo – Brazuka´s Hostel – Blumenau – em 08/11- 19h
Tema: Drag-Queen – Arte, Política e Liberdade: Close Certo!
Participação das Drag-Queens: Bella LaPierre (Gabriela Domingues), Maldita Hammer (Salomé Abdala Issa) sendo estas 2 por web-conferência e participação presencial de Suzaninha Richthofen (Artur Rugoski).
Após esses encontros, começamos os trabalhos práticos com a montagem. Da Cia Carona, Pépe Sedrez, integrante fundador do grupo, assumiu a direção do espetáculo. Aqui, Pépe nos traz um ponto crucial que nos desafiou:
Uma das premissas que elegi(emos) como norteadoras para o processo foi não perder a liberdade de Eva Pepper. Condição sine qua non para a existência desta persona, pois não consigo conceber Eva sem liberdade e, talvez, nem Liberdade sem Eva – aqui uma referência e uma enorme reverência ao Coletivo LGBT onde Eva nasceu. A dificuldade situava-se então entre não perdê-la, porém não tornar o espetáculo um show improvisacional. Frequentemente trabalhando a partir de bases muito sólidas para a construção de ações físico-dramáticas e em estruturas complexas como partituras, nos interrogamos constantemente sobre como a drag queen se portaria. Como não abdicar completamente de nossa busca por precisão e rigor técnico que, cremos, sejam indispensáveis para a edificação desse organismo vivo que é uma obra teatral e, não obstante, não trair a característica essencial de Eva: a relação libérrima e diretíssima com sua plateia. Talvez até já soubéssemos mas, enfim, compreendemos na prática que para não engessar sempre é possível rebolar mais; que perucas, cílios e saltos altos jamais impediriam a precisão necessária; que a língua ferina também pode ser – e é – acolhedora, empoderadora; que o deboche não é mero mecanismo de ataque/defesa, mas instrumento cirúrgico na crítica politizada; que o fervo também é luta e que o amor liberto é realmente revolucionário.
Também convidamos outros profissionais, para além da Cia Carona, que fizeram parte do processo de construção artística, que trabalharam questões específicas como: corporeidade, vocalidade e músicas. Tivemos Bárbara Biskaro (Florianópolis/SC) e Mareike Valentin (Blumenau/SC), com foco na vocalidade de Eva; Carlos Simioni (Campinas/SP), na corporeidade; Gregory Haertel (Blumenau/SC), que assinou a dramaturgia e letras das músicas; e Edu Colvara e Júnior Marques (Blumenau/SC), na composição e nos arranjos musicais.
No trabalho com Carlos Simioni, do Lume Teatro, grupo parceiro de nossas pesquisas e mãe drag de Eva com a sua clown Gilda, Fábio experimentou lugares técnicos já presentes em si, dada a trajetória de nossos estudos, porém, agora, colocados na figura de Eva. Carlos comenta:
Trabalhar com Eva foi de um desafio imenso, primeiro porque eu a conheço e para mim ela já está “pronta”, o que eu poderia trazer para essa figura? Tratei de focar no corpo como propulsor do campo magnético, ativando o que chamamos “corpo sutil”. Neste estado, totalmente consciente, o ator abre portas e tem acesso ao que chamamos de energias complementares, possibilitando o acesso mais concreto à sensibilidade, intuição, imagens que são inatas ao ser humano mas, não acessadas no corpo cotidiano. Eva, pode então, codificar, memorizar as imagens transformadas em corpo ou em formas com sutilezas e densidades. O estado de ser do ator. A plenitude do sensível, como nos ensina a dança butoh (Carlos Simioni, em 2019).
Neste ponto do processo, já com vários materiais criativos (textos, ações, músicas etc) resgatamos o relato de Pépe e comentamos o que, para nós, talvez tenha sido o desafio principal: a composição dramatúrgica no sentido temático e, principalmente, na linguagem espetacular, que desse conta de abraçar as especificidades que a obra necessitava ter pelo fato da personagem ser uma drag queen.
Como ela nasceu no ativismo LGBT, isso nunca se afastou de seus “gritos”. Então, unindo as impressões das rodas de conversa, buscamos textos que expandiram esses aspectos ativistas de Eva, porém sem perder o olhar poético que a arte traz para questões político-ativistas.
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